Recentemente vi o novo documentário sobre Michael Jackson da HBO, Leaving Neverland, onde várias vítimas de abuso sexual às mãos de Jackson se chegaram a frente para contar as suas histórias.
O documentário está a chocar o mundo. As vendas do cantor caíram a pique e várias rádios em todo o mundo deixaram de passar as músicas do Smooth Criminal. Não que ele se importe muito, visto que já há uns aninhos que o artista deixou de parecer um cadáver e passou mesmo a ser um. Aguardando anciosamente o documentário Leaving Vatican. Pode ser que as vendas da empresa também desçam a pique.
Confesso que nunca fui grande fã do senhor, admirava-o enquanto músico e performer, mas tendo eu crescido na época em que ele parecia ter sido atropelado por um camião e em que já estava a ser acusado de abusos a menores, ele sempre me pareceu mais um bicho papão do que um cantor.
Depois de ver o documentário não perdi o respeito que tinha pelo performer, mas ganhei pena da pessoa por trás do artista. Acho que nunca ninguém desconfiou que faltava ali um parafuso ou dois, mas isso ganha toda uma nova dimensão neste documentário.
Podemos ver claramente como Michael Jackson era um homem solitário, incapaz de se integrar, uma criança de 10 anos presa num corpo de um adulto a envelhecer. Só se conseguia relacionar com crianças, porque ele próprio era uma.
Ele tornava-se o melhor amigo dos menores, trocavam faxes e cartas, dava-lhes alcunhas, brincava com eles, viam filmes juntos, enfim, eram como namorados de 10 anos. Até Jackson se fartar e os trocar por outros miúdos, ou os fazer competir pela sua atenção.
E passa-se uma hora de documentário. E começam os abusos sexuais. Aqui a pena transforma-se em repulsa.
Percebemos que Jackson sabia que o que estava a fazer era errado. Aqui descobrimos que ele treinava as crianças, apaixonadas pela estrela e pela perspectiva de uma carreira que ele poderia proporcionar, para se vestirem o mais rápido possível, caso alguém batesse à porta.
Os relatos, às vezes extremamente gráficos, das vítimas fazem-nos sentir desconfortáveis e repugnados, fazem-nos odiar os pais que permitiram que aquilo acontecesse, por estarem eles próprios iludidos pelo êxtase de ser acolhido em casa do Rei do Pop.
Tudo é extremamente bizarro, para mim pelo menos, que felizmente nunca tive qualquer contacto com a pedofilia, a figura de Jackson, que só por si é macabra, num quarto de hotel ou num chuveiro com uma criança, às vezes com 7 anos de idade, a ensinar os miúdos o que é sexo oral, partilhar pornografia com eles… E isto tudo debaixo do nariz dos pais… Enfim…
É justo culpar uma pessoa que teve a infância que ele teve? É justo culpar uma pessoa que teve a vida que ele teve? Não sei se é justo, mas é difícil voltar a ouvir Jackson depois de conhecer as vidas que ele mudou para sempre.
Leaving Neverland está disponível em streaming através do novo serviço da HBO e nos locais habituais para gamar da net.
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