No passado Sábado, veio a público que a Porto Editora, publicadora de êxitos como Desejo Subtil, Os Segredos da Noite, ou até o clássico Prazer Ardente, a secção erótica está com 50% de desconto, a propósito, aproveitem… Disse-me um amigo. Onde é que eu ia? Ah sim, a Porto Editora achou por bem censurar o poema Ode Triunfal, de Fernando Pessoa, num dos seus manuais escolares do 12° ano, por conter conteúdos que, no ver deles, poderão ser problemáticos do ponto de vista didático-pedagógico.
Portanto, basicamente, a editora substituiu por tracinhos os seguintes versos:
“Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas,/ E cujas filhas aos oito anos – e eu acho isto belo e amo-o! – / Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada”.
Das duas uma, ou é tudo um mal entendido e a Porto Editora, na verdade, só quis fazer um exercício daqueles de completar os espacinhos em branco, ou há claramente camadas de estupidez nisto. Vamos começar a tira-las, devagarinho, para não aleijar.
Ora bem, existe um programa para o 12° ano, no qual consta a Ode Triunfal, idealizado e implementado por professores, técnicos de ensino e especialistas da área, mas a Porto Editora achou que esses gajos eram todos burros e não percebiam nada disto. Toca de censurar um dos poetas mais reconhecidos no mundo, porque nós achamos que os meninos do 12° não devem ler estas marotices. Cheira-me que aquilo está cheio de malta com dor de corno por nunca ter sido ministro da educação.
Segunda camadinha. Será possível ser tão ingénuo ao ponto de achar que aqueles três versos vão ter algum tipo de efeito nos jovens que lerem aquilo, além de riso? Atenção, falamos dos mesmos jovens que vão em viagens de finalistas para o estrangeiro, cheios de droga e preservativos pagos pelas mães deles. Não se pensa nestas coisas não é, Porto Editora? É tudo virgem e puro aquela malta do 12° ano, não podem ler “puta” num poema que aparecem com gonorreia e grávidas em casa no dia seguinte.
“Sim, mas isso aborda prostituição e pedofilia, se não houvesse este tipo de profanidade nos manuais escolares os miúdos não faziam essas coisas.” Terceira Camada. Mas por acaso até meio que concordo com esta. Eu quando estudei a Ode Triunfal, no secundário, por acaso comecei a visitar com mais frequência alguns vãos de escada, na esperança de encontrar alguma menina de oito anos que me masturbasse.
Pensando bem isto tudo até foi uma boa ideia… Digo mais, o próximo passo era censurar todas as partes d’Os Maias que tivessem sequer alguma forma de referência a essas imundícies do sexo ou lá o que é. Ficava bastante mais acessível! Menos interessante, provavelmente, mas acessível.
Aliás, vou começar já! Fica mais ou menos assim: “A casa que os Maias vieram habitar”… Calma, habitar? Habitar para quê? Vão-se realizar certas e determinadas situações nesta habitação que impliquem a penetração de uma vagina por parte de um pénis? Por dois irmãos??? Este se calhar é melhor queimar…
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