The Hunting of Hill House Review

“Nenhum organismo vivo consegue viver, de forma sã, em condições de realidade absoluta.”

É sob esta premissa que somos introduzidos à nova série da Netflix, The Haunting of Hill House, e rapidamente descobri que não há frase que descreva melhor as 10 horas que se seguiram.

A série conta-nos a história da família Crain, antigos residentes da mais famosa casa assombrada dos EUA, Hill House, e relata as suas experiências na mansão, e de que forma estas influenciaram a sua vida.

Ao longo do primeiro episódio vamos sendo apresentados aos vários membros da família Crain, os pais Olivia e Hugh Crain, Steven, o filho mais velho, as suas irmãs Theodora e Shirley, e os gémeos Eleanor e Luke. Vamos tendo contacto com as personagens, tanto no presente como no passado, e começamos gradualmente a perceber como Hill House mudou e danificou cada um deles.

Por ser uma série, The Haunting of Hill House dá-se a um luxo que os filmes de terror não têm, que é o de desenvolver cuidadosamente as personagens, fazê-las credíveis e tridimensionais, de modo a que o espectador fique investido nelas e que, assim, crie uma empatia que amplifica tudo aquilo a que estas são submetidas ao longo dos 10 episódios.

Nos primeiros episódios da série, o realizador Mike Flanagan mostra-nos um pouco do que é a vida
de cada um dos irmãos Crain, já adultos, mostrando-nos também partes do seu passado em Hill House, de forma a compreender-mos o porquê de serem agora pessoas danificadas. Conseguimos sentir que são pessoas reais, com problemas reais, são uma família que lida com toxicodependência, depressão, ansiedade, problemas de controlo emocional e instabilidade familiar. Rapidamente aprendemos a temer não só o que está debaixo da cama,
mas também os problemas do quotidiano desta família.

Quanto ao que está debaixo da cama, a série faz igualmente um excelente trabalho de nos manter sempre com a tensão em altas, estabelecendo logo nos primeiros
10 minutos do primeiro episódio que ,muitas das vezes, o perigo se encontra subtilmente no plano de fundo, a espera da altura certa para avançar. Dei por mim vezes sem conta a “fazer scan” ao plano de fundo para ver se algo de suspeito andava a espreita, porque Flanagan plantou esse pensamento em mim logo com o pontapé de partida da série, e não é incomum haver um quadro ou uma estátua cuidadosamente plantados para nos fazer questionar nossa própria sanidade. Há o ocasional jump-scare, e inclusivamente um dos melhores que já vi na história de Hollywood, mas são poucos e espaçados, tal como deve acontecer num bom filme de terror.

Com o avançar da série a tensão da casa assombrada toma um papel secundário, passando o holofote à tensão de uma família a beira do colapso, os terrores sobrenaturais dão lugar aos terrores reais do dia-a-dia, à depressão, ao luto e a dor. E é esta a forma peculiar que The Haunting of Hill House tem de conseguir meter o espectador a roer as unhas não só com o sobrenatural, mas também por nos fazer perceber que há problemas muito reais a nossa volta que nos podem consumir como um bicho papão.

A execução da série está fenomenal, desde a realização às prestações dos vários atores, todos os membros da família têm o seu charme pessoal, a equipa de casting fez um trabalho do outro mundo a encontrar crianças que se parecem imenso com as suas versões adultas, e que fazem um trabalho igualmente decente no desempenhar dos seus papeis.

No fim do dia, The Haunting of Hill House é uma série muito bem escrita e executada, onde o seu ponto forte é sem dúvida as suas personagens. Não sei quão fiel é ao livro no qual é baseada, mas aconselho vivamente a todos os fãs de terror, ou cinema em geral, a darem uma hipótese a esta série.

Aqui do Quarto, out!

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